No dia 20 de abril de 2018, no período da manhã, foi realizada uma intervenção artística, denominada “Sangramos todos da mesma cor”, no saguão do IFMT – Campus Alta Floresta. Protagonizada pelos integrantes do grupo Fulcro Abstração, e por alguns alunos dos Cursos Técnicos em Administração e Agropecuária Integrados ao Nível Médio, a intervenção teve como principal objetivo sensibilizar os estudantes e servidores a respeito dos problemas causados pelas formas de intolerância, preconceito e discriminação, tão presentes em nossa sociedade.
Para tanto, os participantes deitaram-se no saguão do campus com suas roupas sujas de sangue (representado por uma mistura preparada com mel e corante). Enquanto o grupo permanecia deitado, simulando cadáveres vitimados pela violência, era possível notar, no ambiente, a existência de cartazes que faziam referência aos militantes dos direitos humanos executados no último ano. Era também possível ouvir, ao fundo, sons de gritos, tiros e choros, que chamavam a atenção daqueles que passavam pelo local.
No mês seguinte, dia 15 de maio de 2018, a mesma intervenção artística foi realizada no Centro de Referência de Paranaíta, porém, com a participação do terceiro ano do Curso Técnico em Administração Integrado ao Nível Médio da própria cidade. Dessa vez, houve uma dinâmica diferente: primeiramente, foi realizada uma pesquisa sobre os casos de violência e assassinato às minorias, o que resultou na confecção de cartazes; após, passou-se à performance, com alguns alunos deitados no chão, sujos de sangue, enquanto sons de gritos e tiros atraíam o restante da comunidade escolar para o local; por fim, o aluno e ativista do movimento LGBTTQIP Yuri da Silva Santos recitou o poema “HeteroHomoBiTransSexualidade”, de Thaysse Pombo, levantando alguns questionamentos e terminando a intervenção com a frase: ‘’Nós sangramos, mas sangramos todos da mesma cor’’. Assim, o “Sangramos todos da mesma cor” se renovou e se repetiu, a fim de proporcionar, mais uma vez, à comunidade escolar, a reflexão e a conscientização acerca dos casos de violência e intolerância que ocasionam fatos negativamente marcantes em nosso país.
Para a composição dessas intervenções, os alunos e servidores envolvidos pesquisaram sobre os assassinatos/execuções de ativistas dos movimentos sociais, sobre as vítimas de transfobia, homofobia, e de diversas outras formas de intolerância. Essa pesquisa resultou em cartazes impactantes, principalmente no Centro de Referência de Paranaíta; alguns mencionavam os nomes de acontecimentos que dizimaram pessoas, tal como o Massacre de Eldorado dos Carajás, em que ocorreram 19 mortes. Além disso, foi também ressaltado o contínuo assassinato de trabalhadores e líderes no estado do Pará (mais de 271 pessoas), o extermínio de indígenas, bem como outros assassinatos: das travestis Matheusa e Dandara, de Itaberly Lozano, homossexual que teve seu corpo carbonizado, de Marielle Franco e Anderson Gomes, vereadora militante e motorista executados ainda este ano, e o caso Araceli, que foi sequestrada, estuprada, morta e carbonizada, no Espírito Santo, em maio/1973, que tornou o 28 de maio, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e À Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
A realização dessas intervenções só foi possível graças à ajuda dos alunos e servidores que tomaram a frente do trabalho de organização e execução. Por isso agradecemos a todos que, de alguma forma, auxiliaram nas etapas do “Sangramos todos da mesma cor”.